terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Aquele par de tênis pendurado nos fios elétricos pelo cadarço, na rua de baixo, me fazem refletir seriamente nos meus dias de folga voluntária; Será que seria de um garoto, filho de um professor, que seus colegas o perseguiam pelo corredores com o único intuito de aborrecê-lo, e em um dia no fim da tarde após a escola o encontraram na rua, arrancaram os tênis, um após o outro, dos pés agitados do pobre garoto, fizeram um laço e atiraram pro alto, rindo dos pés nus que agora se erguiam tristes e expostos?
Seria de um rapaz que quando notou que não teria como escapar do ladrão, usou de sua agilidade para se livrar do calçado jogando-o para o alto, com o pensamento de que no dia seguinte voltaria para buscar, mas com um som seco desabou no chão após ser atingido por um pedaço de calçada, e nunca mais pode voltar aquela rua para buscar seu tênis?
Na pior das hipóteses, seria apenas uma espécie de farol guia para os viciados em noites estranhas de tremedeira, sinalizando que ali existe um ponto de venda de sua droga favorita?
A versão que mais me agrada seria a que um menino ou menina é dominado pela euforia do pleno compreendimento da felicidade, resolve fazer seu próprio caminho de excêntrico desapego, e começa por se livrar dos tênis, se tornando assim uma das poucas pessoas na terra, podendo se dizer também pelo sentido literal, com os pés no chão.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Odara

Fito um ponto cego no meio de meu quarto, vasculhando minhas lembranças, tentativa, que provoca em meu peito uma dor atroz, de materializar seu rosto em frente ao meu; O tempo levou o que eu sabia de voce, levou as pequenas caracteristicas fisicas que tinha decorado para em dias nublados fazer o que agora eu tento. Me deixou a mesma incerteza amarga de sempre, sou obrigado a engolir esse amargo, como mãe que dá remedio ao filho febril.
E é essa querida febre que me mostra em minhas alucinações noturnas, que minha existencia nunca passou de água em teu corpo, deslizou por ele, chegou aos pés, secou.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O que transcende o estado de solidão é se deparar com a frustração de não ter ninguem para mentalizar enquanto toca uma bela melodia em seu instrumento de cordas, para escrever poesias escondidas e rasgar ao termino da estrofe, é gastar o dia ao lado de muitos e na hora do sono, seu ultimo segundo consciente, nenhum rosto lhe vem em mente, e dorme um sono triste, um sono só.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Fui com sede ao pote, corri, transpirava e bufava, com tanta sede, quando cheguei, amarronzada e seca terra, terra e tristeza. A mal-julgada sede não foi involuntária, meu corpo não estava desidratado, seguindo meu instinto humano, limitado e prepotente, criei a sede quando vi que não havia mais ninguém por perto para chegar tão rápido quanto eu ao pote. A culpa não é do pobre pote, era convidativo, mas não chegou a me convidar. Muito menos da sede, estava adormecida quando fiz questão de acordá-la. Aceito e assumo que a culpa foi minha por me agarrar a oportunidade de matar a sede que não tinha. Agora, a sede acordada resmungava por água, já eu, com os dedos sujos de terra, gesticulava e gaguejava tentando dar uma boa desculpa.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Deitada, no leito da morte, com dúzias de tubos saindo de seu corpo, em uma posição onde avistava a parede branca e a elevação que seus pés causavam nas cobertas, se arrependeu. Da roupa roxa que não usou, do filme que não pode ver, da dança que não pode dar o luxo de ser convidada a dançar, da musica que tapou os ouvidos para não escutar, do homem que não teve o prazer de deitar junto, do anel que não pôs no anelar, do hímen intacto e adormecido, de nunca ter sentido a sensação de ver um crânio se projetando para fora de seu corpo enquanto a dor de defecar uma caminhonete lhe percorria o corpo, do habito que usou por mais de 50 anos, pelo punhal que não passeou dentro do capelão bulinador de crianças, e finalmente, de ter afirmado a vida inteira amar um homem a quem nunca se quer recebeu um "bom dia" em troca.
De súbito, como se sua mente espirrasse um pensamento, percebe que no ultimo ponto, conseguiu arruinar com seu passaporte. Notando que havia traído o que por toda vida tinha acreditado, perdendo assim, a possível paz eterna, se arrependeu novamente, de ter desejado um dia aquele maldito sapato roxo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Roseli

Se solução na pratica dos problemas não há, e a cara amarrada e distante insisti em estragar seus jantares, isolamento é a saída. Mas enquanto me encontrar isolado, me divertindo com a minha coleção de arrependimentos, não venha me pedir para que mude, a mascara do bem-estar alheio já não cabe em meu rosto.
Avise a familia que escolhi que cansei da estagnação que me propunham diariamente quando reclamavam de minhas grosserias, se não entenderam o manual de "como nao se queimar", o menos culpado é o mais julgado.
Mas se encontrar alguem que não seja inflamável pela má educação, mande entrar.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A maldade está nos olhos de quem vê, na mente de quem planeja, nas mãos de quem executa, no bolso de quem financia, no medo de quem testemunha e omite, na vingança de quem sofre, no martelo de quem julga, na tentação de quem se corrompe, nos olhares de quem inveja, na criatividade de quem escreve e no julgamento de quem lê, em mim e em você.
Começaremos abolindo a mesma de nós dois. Assim espero.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

- deus lhe pague. - numa voz chorosa e agradecida.
- deus me pague? Então quer dizer que você faz as dividas, e pede para deus pagar? Não que eu queria que essa divida seja paga, mas dá um tempo! Por esse um real eu trabalhei um mês inteiro! Sabe o que é trabalhar um mês inteiro? Na verdade não foi todo o mês, ganho 26 por dia de trabalho, trabalho 8 horas por dia, trabalhei 20 min. para ganhar esse um real! Deus me deu 20 minutos e resolvi trabalhar para ganhar um real, você também ganhou 20 minutos, mas não trabalho, e agora quer que deus pague esse um real para você? Alem dos 20 minutos que você ganhou ainda quer que ele te de um real? - cuspia, cuspia longe.
- Eu...
- A vida é fácil para você então? Você paga as suas contas com deus-lhe-pague também? Há 2000 anos atrás ele mandou o filho dele para pagar pelos nossos pecados, agora você quer que ele mande outro para pagar nossas dividas? Você quer que mais um filho dele morra então? Metralhado por agiotas, é? - uma veia saltava em sua testa a mão suando apertava a alça da maleta.
- O qu...
- Olha aqui meu senhor, você já acabou com o meu dia, vou embora antes que eu decida pegar meu um real de volta, tchau e fique com deus.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

E sempre eu me encontrava com o queixo apoiado na palma de minha mão pensando na mesma coisa.
E se isso que sinto não é o tão famoso e espetacular amor? É apenas uma atração fisica que eu poderia ter por milhares de outras especies na terra e fora dela? É custoso saber o que está se passando com você se os benditos amigos que inventam palavras e sentimentos nao explicam o que realmente é e para que serve.
E se eu chegar aos meus 70 anos de idade numa casa onde so a morte vem aos monotonos domingos me visitar, sem saber o que é realmente o amor? Com que cara vou dizer para os meus companheiros de fim de vida que nunca senti sentimento tao maravilhoso quanto o amor? E quando chegar aos céus e olhar nos olhos de deus, o que sera que vai passar pela mente divina quando Ele souber que um dos seus, imagem e semelhança, passou a vida inteira sem nunca ter sentido a coisa mais pura que Ele criou? Fico timido, peço desculpas, o que eu faço? Na realidade a culpa não é toda minha se nunca senti!
E se eu sinto amor, não por um corpo-mais-alma de uma mulher, e sim por um cigarro de filtro amarelo que risca minha garganta, me inunda de mau cheiro e libera 4700 subatancias toxicas pelo meu corpo? Estaria eu errado e ai sim deveria me envergonhar na frente de deus, por ter amado um objeto tão sujo ao invez de uma mulher?
Pior, e se eu ja amei, e não achei o amor assim tão delicioso? Sera que o amor foi só aquelas pernas tremulas, mãos suando e a mente focada na mesma alma durante todo o dia? Se sim, deus é que deveria se envergonhar perante a minha presença, por ter feito tanto alarme por causa de um sentimento tão pequeno.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Acordava cedo e rapido, já pensando nos milhares de tipos de sujeiras que podiam ter adentrado em sua casa enquanto descansava - Burra, Burra, deveria ter dormido menos. Praguejava enquanto urinava no banheiro de um branco virginal.
Mania de limpeza mas não de higiene pessoal. Raramente escovava os dentes, só escovava quando o cheiro ou o gosto a incomodava.
Voltava para o quarto que dividia com: seu marido acima do peso, um crucifixo, um armario e uma penteadeira. Quase sempre que olhava para Jesus, alí, pregado na cruz e ensopado de sangue, lhe vinha a mente um pensamento que muitos de sua paroquia julgariam mal, uma vontade imensa de limpar aquele homem inteiro, tirar todo aquele sangue mal cheiroso de cima dele, nao por compaixao, pela simples vontade de limpar.
Tomava o café com o marido acima do peso e suas duas filhas sempre de olho nos possiveis pingos que poderiam cair e manchar a toalha.Tinha pavor quando sua filha tentava preparar um achocolatado. A colher ali, no ar, cheia de pó de cacau pronto para sujar tudo.
Todos fora, filhas na escola, marido acima do peso trabalhando, a melhor hora do dia!
Começava arrumando a cama das filhas, passava para seu quarto, varria a cozinha, lavava quintal, varria a sala e se lembrou do canto. A dias o canto, encontro de uma parede azul com uma branca que ficava atraz da televisao de 21 polegadas da sala, nao era limpado. Arrastou a comoda onde a televisao se encontrava e viu aquela cena repugnante - o canto mais sujo do mundo! - pensou com segurança, sem duvida alguma.
Uma vassoura e um pano preso a um rodo nao foram o bastante, o canto continuava ali, sujo.
Sem hesitaçao se lançou de quatro ao chao de tacos, flexionou os cotovelos para que sua cabeça abaixasse, abriu a boca, e com rapidos movimentos com a lingua, tirou poeira, pedaços de unha e afins que se encontravam ali, no canto.
Posta novamente de pé, engoliu seco aquela mistura de gloria com restos do tempo. No exato momento em que a mistura descia um pensamento veio de subito a sua mente -ISSO É LOUCURA!
Se largou no sofa, quado suas costas encontraram o estofado seu pensamento de reprovaçao foi substituido por um que seu subcosciente julgava muito mais importante - A LOUÇA DO CAFÉ, MEU JESUS!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Sexto Dia.
Com os olhos semi-abertos e com os ouvidos desligados Ele ve algo se aproximando.
- Ah, é você, qui qui você qué? - Ele pergunta numa voz rouca de sono.
- Bom, achei que o Senhor havia mandado me chamar. - diz o anjo cordialmente.
- Hã? ah, sim sim, quero uns favor seu.
- Diga, estou em plena disposição.
Alguma coisa naquela voz, de ajudante de corredor de supermercado, nao agradaria a qualquer pessoa que estivesse devidamente desperta.
- Se já fez aquelas ribancera que eu te pedi?
- Os cannyons? Sim, sim, tudo pronto
Ele parou, pensou, odiava nao ter ordens para dar, Ele era Ele afinal. Tinha aprendido que com Ele não se brinca e todos devem teme-lo. Sabia que não era lá dos mais espertos, mas Ele era Ele afinal e com isso ficava facil o conformismo.
- Éééé... cria uns negócio ai pra mim. - Ele agora diz com um olho mais aberto que o outro, olhando para o céu, como quem precisa de uma pesquisa no cerebro antes da resposta.
- Okay, mais montanhas Senhor?
- Naum Naum, é que assim, eu queria ve uns bixinho por ai, correndo, mechendo nas coisa, meio parecido assim comigo, se ta me entendendo?
- Absolutamente - diz Satã com um sorriso meia-lua no rosto.