segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Deitada, no leito da morte, com dúzias de tubos saindo de seu corpo, em uma posição onde avistava a parede branca e a elevação que seus pés causavam nas cobertas, se arrependeu. Da roupa roxa que não usou, do filme que não pode ver, da dança que não pode dar o luxo de ser convidada a dançar, da musica que tapou os ouvidos para não escutar, do homem que não teve o prazer de deitar junto, do anel que não pôs no anelar, do hímen intacto e adormecido, de nunca ter sentido a sensação de ver um crânio se projetando para fora de seu corpo enquanto a dor de defecar uma caminhonete lhe percorria o corpo, do habito que usou por mais de 50 anos, pelo punhal que não passeou dentro do capelão bulinador de crianças, e finalmente, de ter afirmado a vida inteira amar um homem a quem nunca se quer recebeu um "bom dia" em troca.
De súbito, como se sua mente espirrasse um pensamento, percebe que no ultimo ponto, conseguiu arruinar com seu passaporte. Notando que havia traído o que por toda vida tinha acreditado, perdendo assim, a possível paz eterna, se arrependeu novamente, de ter desejado um dia aquele maldito sapato roxo.

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