quinta-feira, 15 de março de 2012

De certa maneira sinto falta de alguns velhos fantasmas, já que agora eles me parecem tão inocentes...

Chacoalhavam a porta de noite, muitos bêbados, olhando de soslaio pela fechadura bradando "nos siga ou vá pro caralho!"e eu fingia de preguiçoso na rede ou segurava a porta em silêncio.
De tempo tão livre me fiz escritor e depois pintor, tudo que via eram lacunas que me forçavam a preenche-las: Papéis e paredes. Após preencher todos os corpos e para agasalhar o bate-panelas fantasmagórico me fiz músico, sufocando o ar nunca ventilado com mais de mim. Finalmente eles cansaram e se foram, as vezes os escuto muito longe, como depois de montanhas ou sugados pelo chamado do mar.

Agora o que me resta é a porta, ansiando pela largada da corrida do ferrolho.

Se te apontam o caminho é sempre mais fácil. Quando os espíritos do passado me obrigavam a trancar-me em meu quarto era estreito, sentia uma sublime sensação de enfermo que na sua cama levanta os ombros como quem não pode fazer nada. Agora que meus pais me dizem que o mundo é meu e a ciência diz que o universo também, não sei o que fazer. Eu sempre soube o que dizer até o momento em que alguém me perguntasse algo.

Enfim, atravesso a porta e caminho nessa escuridão onde a única luz vem de trás e me recordo de palavras que talvez até sejam minhas: Onde não há luz, a vela é mais cara.