quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Seja como for, estou vivo.

Ela se repete em minha cabeça, mas não como aconteceu; a imaginação a salgou à sua maneira, preservando, secando e botando este gosto que nunca pereceu.
Por não ter ponto de partida nem ser fiel ao passado, a lembrança em sua forma é independente, uma massa que não se pode dizer nada, só repetir. É arte reversa, é viver, é ver e deixar que este quadro pintado se reproduza no inconsciente. Mesmo esta estagnada, luta e se defende. Feito animal procria, caça detalhes e respira!
Ave Ruminação!
Não me lembro dos velho dias de minha existência,
já que agora, dentro dela, lateja a bala alojada da frustração.

quinta-feira, 15 de março de 2012

De certa maneira sinto falta de alguns velhos fantasmas, já que agora eles me parecem tão inocentes...

Chacoalhavam a porta de noite, muitos bêbados, olhando de soslaio pela fechadura bradando "nos siga ou vá pro caralho!"e eu fingia de preguiçoso na rede ou segurava a porta em silêncio.
De tempo tão livre me fiz escritor e depois pintor, tudo que via eram lacunas que me forçavam a preenche-las: Papéis e paredes. Após preencher todos os corpos e para agasalhar o bate-panelas fantasmagórico me fiz músico, sufocando o ar nunca ventilado com mais de mim. Finalmente eles cansaram e se foram, as vezes os escuto muito longe, como depois de montanhas ou sugados pelo chamado do mar.

Agora o que me resta é a porta, ansiando pela largada da corrida do ferrolho.

Se te apontam o caminho é sempre mais fácil. Quando os espíritos do passado me obrigavam a trancar-me em meu quarto era estreito, sentia uma sublime sensação de enfermo que na sua cama levanta os ombros como quem não pode fazer nada. Agora que meus pais me dizem que o mundo é meu e a ciência diz que o universo também, não sei o que fazer. Eu sempre soube o que dizer até o momento em que alguém me perguntasse algo.

Enfim, atravesso a porta e caminho nessa escuridão onde a única luz vem de trás e me recordo de palavras que talvez até sejam minhas: Onde não há luz, a vela é mais cara.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Achei estes pesados pensamentos no meio das coisas do meu falecido avô. Estremeci ao perceber que sou apenas hélice de um moinho, e que o mesmo vento que soprava nele ainda sopra em mim.

"A chave para o entendimento do meu ser é a paciência. Não precisa ser um grande analista para me entender, não precisa ser sensível nem sensitivo. É paciência para me ouvir, me ver, me querer e não me interromper enquanto digo. Mas vocês sempre me querem encaixado em algum plano, em algum molde. Me querem previsto, sabendo o que vou fazer. Não entendem o porquê tomo sopa ao invés de comer frango e com um sorriso de canto de boca vocês dizem "Então você é do tipo que não come frango? Não me venha com essa!"
O grande erro de vocês é conectarem as coisas e usar da burrice de um julgamento precoce: se não gostas de carne, provavelmente não tomas aguardente e por conta disso é do tipo rebuscado e aborrecido.
Vá, reputar minhas preferências alimentares ainda passa, mas dizer sobre alegria à vida por cousa tão pequena é me afogar em injustiça. Deixo aqui meu ultimato: bebo cachaça e odeio frango!"

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Paula dois



Acho que essas densas lágrimas nunca vão deixar que entenda o meu ver sobre a morte. Enxergo muito bem que só existem dois tipos, aquela que te persegue e te agarra em uma queda de avião, numa bala de chumbo perdida pelas ruas ou quem sabe em um câncer, inesperado e definhante. Existe também aquela morte que esta estacionada, fica lá parada em um mostruário de padaria dentro de um pacote com 20 cigarros, em uma doença que fica escondida atrás da genitália ou em um pó branco que os comerciantes da madrugada vendem.
Pelos meus julgamentos, todos aqueles que partem por uma morte que estava estacionada, são suicidas. E você que agora chora e grita dizendo que amarguei tudo que existia de bom na sua personalidade, veja bem, nunca fui à tua casa.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Paula


Exibia de portas abertas sua casa. Mostrando cada belo detalhe e decoração, misturando o moderno com o antigo. Contrastando o verde e o mogno, o azul e o carvalho. Tudo em tal perfeita harmonia e preenchimento que nem parecia sobrar espaço para a desordem e os sentimentos genuínos. Se dizia uma "fortaleza esculpida em bronze" e que nunca sentira tais emoções.
Só eu que via o jardim de sua cabeça. Pegava tudo quanto era sentimento sólido e enterrava, jogando terra, ironia, musica europeia e livros feministas por cima. Ficava apenas com seu sorriso vazio e seu estado perpétuo de indiferença e tranquilidade forçada.
Uma leve chuva era o suficiente para germinar, e não tardava para nascer da terra úmida em lágrimas, belas e teimosas plantas. Com a cara coberta de vergonha e terra, ela arrancava pela raiz e cuspia para longe, sem nem se preocupar se a semente que germinara era de amor ou de ódio.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Maria Elena

Não, não é a vontade do exílio, de estar completamente só. Sinto agora, a vontade de estar "só" de você. Não digo que a culpa seja sua, poucos conseguem reciclar o olhar e você não nasceu com esse dom. Você continua ai, me vendo com os antigos binóculos e me tratando daquela velha maneira. Mas eu sou outro e isso já tomou consciência. Você me lembra diariamente o que eu era e isso é o estopim para pequenas contradições mentais. Preciso de um lugar onde eu comece do zero, sendo o que sou agora, sem que ninguém me lembre que acabei de passar por uma metamorfose. Imagine se um pássaro seria capaz de voar se a todo tempo o confundissem e achassem que ele ainda esta dentro do ovo?

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Edson

Eu tinha três anos de idade, meu pai me pegou no colo e me levou até o quintal de casa para me mostrar a lua cheia, enquanto ele apontava para o céu com um sorriso no seu rosto barbudo, eu afundava. A curiosidade diluída em melancolia me fez perguntar: - Então, quando ela é vazia?

Por vezes, em noites de qualquer lua, o meu "eu" de três anos vem me visitar. Volta cheio de delicadas perguntas. Questiona o porquê que tudo precisa ter cheios e vazios, porquê as coisas não podem ser sempre plenas e sólidas. Ao invés da resposta, lhe faço a promessa que algum dia eu explico.
Ele resmunga e dorme seu sono agitado em meu peito, insatisfeito pela ausência da resposta. Dorme o meu sono e em troca me dá os suspiros da inquietude de não saber o por que todas as vezes que vou dizer da ambiguidade da lua, digo da dos homens. E cumpro com minha palavra dizendo a resposta baixinho, para que ele não ouça; - Nem todos os homens conservam a candidez da infância, a maioria precisa que as vezes a lua suma, para que ela exista.