quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Edson

Eu tinha três anos de idade, meu pai me pegou no colo e me levou até o quintal de casa para me mostrar a lua cheia, enquanto ele apontava para o céu com um sorriso no seu rosto barbudo, eu afundava. A curiosidade diluída em melancolia me fez perguntar: - Então, quando ela é vazia?

Por vezes, em noites de qualquer lua, o meu "eu" de três anos vem me visitar. Volta cheio de delicadas perguntas. Questiona o porquê que tudo precisa ter cheios e vazios, porquê as coisas não podem ser sempre plenas e sólidas. Ao invés da resposta, lhe faço a promessa que algum dia eu explico.
Ele resmunga e dorme seu sono agitado em meu peito, insatisfeito pela ausência da resposta. Dorme o meu sono e em troca me dá os suspiros da inquietude de não saber o por que todas as vezes que vou dizer da ambiguidade da lua, digo da dos homens. E cumpro com minha palavra dizendo a resposta baixinho, para que ele não ouça; - Nem todos os homens conservam a candidez da infância, a maioria precisa que as vezes a lua suma, para que ela exista.

sábado, 6 de novembro de 2010

Em Abril um heterônimo veio até mim e disse:

"Sou rei de coisas pequenas, de mundos muito menores que eu. De pessoas ásperas que não podem me criticar. Uso palavras difíceis se essas mesmas tentam me questionar, fazendo assim com que se calem de vergonha. Medo tenho eu, de enfrentar quem esta a minha altura ou num degrau mais alto. Vai que a falta de compaixão deles pelos menores me machuque. Se eles usarem de palavras que não sei, quando eu audaciosamente questionar alguma coisa, ficarei deprimido, me calarei de vergonha perante a eles, esses monstros. Então continuo aqui onde governo, ninguém nunca vai me substituir mesmo. Todos que crescem, aqui não continuam."