terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Achei estes pesados pensamentos no meio das coisas do meu falecido avô. Estremeci ao perceber que sou apenas hélice de um moinho, e que o mesmo vento que soprava nele ainda sopra em mim.

"A chave para o entendimento do meu ser é a paciência. Não precisa ser um grande analista para me entender, não precisa ser sensível nem sensitivo. É paciência para me ouvir, me ver, me querer e não me interromper enquanto digo. Mas vocês sempre me querem encaixado em algum plano, em algum molde. Me querem previsto, sabendo o que vou fazer. Não entendem o porquê tomo sopa ao invés de comer frango e com um sorriso de canto de boca vocês dizem "Então você é do tipo que não come frango? Não me venha com essa!"
O grande erro de vocês é conectarem as coisas e usar da burrice de um julgamento precoce: se não gostas de carne, provavelmente não tomas aguardente e por conta disso é do tipo rebuscado e aborrecido.
Vá, reputar minhas preferências alimentares ainda passa, mas dizer sobre alegria à vida por cousa tão pequena é me afogar em injustiça. Deixo aqui meu ultimato: bebo cachaça e odeio frango!"

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Paula dois



Acho que essas densas lágrimas nunca vão deixar que entenda o meu ver sobre a morte. Enxergo muito bem que só existem dois tipos, aquela que te persegue e te agarra em uma queda de avião, numa bala de chumbo perdida pelas ruas ou quem sabe em um câncer, inesperado e definhante. Existe também aquela morte que esta estacionada, fica lá parada em um mostruário de padaria dentro de um pacote com 20 cigarros, em uma doença que fica escondida atrás da genitália ou em um pó branco que os comerciantes da madrugada vendem.
Pelos meus julgamentos, todos aqueles que partem por uma morte que estava estacionada, são suicidas. E você que agora chora e grita dizendo que amarguei tudo que existia de bom na sua personalidade, veja bem, nunca fui à tua casa.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Paula


Exibia de portas abertas sua casa. Mostrando cada belo detalhe e decoração, misturando o moderno com o antigo. Contrastando o verde e o mogno, o azul e o carvalho. Tudo em tal perfeita harmonia e preenchimento que nem parecia sobrar espaço para a desordem e os sentimentos genuínos. Se dizia uma "fortaleza esculpida em bronze" e que nunca sentira tais emoções.
Só eu que via o jardim de sua cabeça. Pegava tudo quanto era sentimento sólido e enterrava, jogando terra, ironia, musica europeia e livros feministas por cima. Ficava apenas com seu sorriso vazio e seu estado perpétuo de indiferença e tranquilidade forçada.
Uma leve chuva era o suficiente para germinar, e não tardava para nascer da terra úmida em lágrimas, belas e teimosas plantas. Com a cara coberta de vergonha e terra, ela arrancava pela raiz e cuspia para longe, sem nem se preocupar se a semente que germinara era de amor ou de ódio.