quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Edson

Eu tinha três anos de idade, meu pai me pegou no colo e me levou até o quintal de casa para me mostrar a lua cheia, enquanto ele apontava para o céu com um sorriso no seu rosto barbudo, eu afundava. A curiosidade diluída em melancolia me fez perguntar: - Então, quando ela é vazia?

Por vezes, em noites de qualquer lua, o meu "eu" de três anos vem me visitar. Volta cheio de delicadas perguntas. Questiona o porquê que tudo precisa ter cheios e vazios, porquê as coisas não podem ser sempre plenas e sólidas. Ao invés da resposta, lhe faço a promessa que algum dia eu explico.
Ele resmunga e dorme seu sono agitado em meu peito, insatisfeito pela ausência da resposta. Dorme o meu sono e em troca me dá os suspiros da inquietude de não saber o por que todas as vezes que vou dizer da ambiguidade da lua, digo da dos homens. E cumpro com minha palavra dizendo a resposta baixinho, para que ele não ouça; - Nem todos os homens conservam a candidez da infância, a maioria precisa que as vezes a lua suma, para que ela exista.

5 comentários:

  1. Eu passei pela mesma coisa em minha infância e todas as vezes que olho para as estrelas. Para o céu. Sinto a mesma coisa. E me afundo em um universo particular, infantil e vou para longe e pergunto de tudo, do todo, e me pergunto de toda realidade, de toda a vida, de toda existência e me perco em meu mundarel de questões. No meu blog uma vez eu postei um texto muito sujo sobre isso.

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  2. Está estranho, mas se quiseres ver, boa leitura:

    http://pascholatti.blogspot.com/2009/07/tao-cade-voce.html

    Teu blog é muito sensível, a gente o lê e sente na pele a mensagem que queres passar, sentimos exatamente o que você sente ao escrever.

    (Escrevendo rápido, mas é o que acho)

    Abraços

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  3. O homem não pode conservar a candidez da infância pois só se faz dilacerar quando se lembra de algo que jamais teremos de volta.

    Mais um belo texto.

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